ISSO É UM ASSALTO!



Já se passaram mais de dez anos desde a primeira vez que fui assaltado. Na primeira vez levaram minha bicicleta – tudo bem, era do meu irmão – lembro-me que meu coração acelerou tanto que fiquei praticamente estático. Em outro momento levaram meu celular, também num assalto. Para falar a verdade eu perdi vários celulares e várias bicicletas. Eu tinha coleção de carregadores de celular em casa e foram tantas bicicletas perdidas que meu pai chegou a proibir que eu comprasse outras. Fui roubado tantas vezes que perdi as contas de quantas vezes eu havia sido vítimas deles. Por causa disso virei piada. Até ensinava as pessoas a serem assaltadas sem perder a calma. Parece brincadeira, mas para mim era mais sério do que pensavam.


Como eu me sentia impotente diante de uma pistola. Relembrar todas aquelas experiências levou-me a criar um verdadeiro ódio pelos ladrões, assaltantes e todo o tipo de criminoso. Adorava ver ladrões apanhando, gostava tanto que sentia alegria em ver tapas sendo dados em seus rostos. Eram muitos tapas, e muitos chute também. E comemorava quando via a morte de pessoas envolvidas na criminalidade. Bem feito! – eu dizia orgulhosamente - Quem mandou entrar nessa vida? Bandido bom é bandido morto! – eu falava plagiando o Capitão Nascimento. Não tinha a menor dúvida de que eles estavam errados.


Numa noite, no culto um pregador que não conhecia, se dizia ex-presidiário. Ele havia passado muito tempo preso, mas agora era um crente no Senhor Jesus Cristo. Após sua pregação, começou a contar o testemunho de sua vida bandida, e logo quis uma interação com o público. Quantos de vocês foram assaltados aqui? – perguntou ele – e muitos levantaram as mãos (inclusive eu, claro). E quantos de vocês oraram pela vida do assaltante? – todos baixaram as mãos, em reposta à sua pergunta. A segunda indagação me acertou em cheio.


Depois disso me desliguei da pregação e viajei numa luta interna. Fiquei louco com a aquela pergunta. Lembrei-me dos relatos bíblicos que diziam sobre a morte de Jesus, pelas Suas orações em favor de Seus inimigos enquanto o pregavam numa cruz. Não demorou nenhum um minuto para perceber que ser cristão é um chamado não somente a render sua vida a Cristo, mas também a imitá-lo em sua vida e a crescer em Sua semelhança. Por fim, lembrei-me de mais duas coisas. A primeira é que eu era crente. A segunda é que eu estava bem longe de me parecer com Cristo.


Deus provou seu grande amor por mim enviando Seu único Filho para morrer em meu lugar, sendo eu ainda pecador, inimigo Seu. Como pode? Certa vez Jesus disse: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. O amor de Jesus mostrou o significado do perdão, do serviço e da entrega. Percebi nitidamente naquela hora que não era melhor do que ninguém. Pelo contrário era, por natureza, herdeiro da ira de Deus, nada de bom havia em mim para que eu fosse merecedor de seu perdão. Então conclui e que os assaltantes são tão carentes da graça de Deus quando eu. Cristo me amou e eu devia amá-los também. Mas, como?


Fiquei tão envergonhado de querer morte às pessoas que me fizeram o mal, que nem mesmo lembrei-me que eu também já fui um ladrão da glória de Deus. Não sabia muito bem o que fazer, porém lembro que naquele mesmo momento orei ao Senhor, confessando minhas atitudes orgulhosas e vingativas e suplicando que Ele me ensinasse e me ajudasse amar meus inimigos, amar quem tanto tinha me feito o mal.


Não sabia muito bem o que fazer depois do término do culto, todavia há poucos meses atrás, eu havia orado por oportunidades de servir a Deus sem que houvesse holofotes sobre mim, ou tapinhas nas costas para me encorajar, apenas queria servi-Lo, fazer o que deveria ser feito da maneira que deveria ser feito, ou seja, com amor. Logo depois, fui procurar o pregador que conseguiu me confrontar usando apenas duas perguntas. Pessoas oraram por ele, e ele estava sendo benção na vida de muitas pessoas, isso serviu para mostrar-me que o pior dos pecadores tem jeito se for por intermédio de Cristo. Certamente Ele produz vida onde há morte e esperança onde só há desespero. Eu precisava acreditar nisso, não somente saber, mas aceitar e confiar que isso poderia acontecer caso o Senhor quisesse.


Dispus-me a ajuda-lo, mesmo não tendo a mínima ideia do que eu poderia fazer. Ao cumprimenta-lo descobri que seu nome era Ronaldo e quando falei de minha ideia, ele pediu-me para programar um evento, onde minha igreja realizasse um culto no presídio. De fato, tentei fazer isso, mas ninguém se animou para fazê-lo. Passaram-se três meses e eu não o vi mais, nem tive notícias suas. Não sabia se aquilo poderia ir avante. Entretanto o reencontrei numa conferência teológica, e logo me apressei para novamente me disponibilizar a auxiliá-lo no trabalho de ensino da Bíblia nos presídios. Não tinha certezas, planos, tampouco convicções de como eu iria servir naquele trabalho, apenas queria fazer alguma coisa por eles. Mesmo sem compromisso, acabei indo, e por incrível que pareça, já se passaram quase quatro anos desde que comecei a ensinar a Bíblia para jovens presidiários. Não sei até quando vou ficar, porém certamente obtive um grande aprendizado.


Não compreendo muito os planos de Deus, e creio que ainda não consegui interpretar de fato o que Ele fez e como fez para que eu estivesse envolvido com missões urbanas. Só sei que fui assaltado várias vezes e que Deus usou isso para me mostrar quem de fato eu era.


Se você acha que eu tenho um chamado, certamente posso te dizer que não caí do cavalo ao ver uma grande luz brilhando e uma alta voz dizendo meu nome, nem fumaças, nem anjos com seis asas, tampouco fui engolido por um grande peixe. Eu simplesmente fui assaltado.


A grande questão não é se Deus chama ou como Ele chama, a questão é: será que queremos ouvir a voz de Deus?


Ah, só para saber: Alguém já foi assaltado aí?




Miguel Alysson

Ministério Resgate

4 comentários:

  1. É... eu já fui assaltada sim, apenas 2 vezes. Mas elas foram suficientes para criar em mim total desprezo pelos assaltantes. E muitas vezes também desejei a morte deles.
    Mas sempre que leio esse testumunho, eu me lembro de quem eu sou. Quem sou eu? apenas um grão de areia do mar.
    Mas mesmo sendo um grãozinho, Deus me escolheu para fazer a diferença no mundo. Realmente, devo me envergonhar e orar por essas pessoas.
    abraços, Lícia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, Lícia. Creio orar por quem nos faz o mal, é difícil, porém é o que o Senhor quer de nossa vida.

      Miguel Alysson
      Ministério Resgate

      Excluir
  2. Já meu amigo e já pensei como vc, a propósito ouvi a frase "bandido bom, é bandido morto" hj e fiquei refletindo sobre a minha vontade de ajudar vc no ministério resgate, estou disposto a entrar na guerra estou quase chorando aki emocionado com as coisas que Deus tem feito por mim...e por essa vontade de falar do evangelho que o Senhor tem me dado, Deus nos abençoe e nos use como ferramentas na Sua mão, abraço, Renan.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amém, Renan!

      Fico feliz por saber que Deus está te mostrando o valor das coisas realmente valiosas. Que o Senhor continue a te guiar, a te direcionar e te capacitar.

      Abração!!!

      Excluir